Archimedes

O gênio da antiguidade que moldou o pensamento científico moderno

ÍNCONES DA HISTÓRIA

Arthur Noronha

5/15/20253 min read

Por Arthur Noronha
15 de maio de 2025

No coração da antiga Siracusa, cidade situada na ilha da Sicília, nasceu um homem que atravessaria os séculos com sua genialidade. Archimedes, considerado por muitos o maior cientista da Antiguidade, transformou profundamente a forma como entendemos o mundo físico. Seu nome ecoa nos livros escolares, nas universidades, nos discursos sobre ciência e inovação, mas sua história vai muito além de fórmulas ou leis gravadas em papel.

Filho de Phidias, um astrônomo respeitado, Archimedes cresceu cercado pela curiosidade e pelo fascínio do cosmos. Desde cedo demonstrou interesse por números, formas e mecanismos. Ainda jovem, acredita-se que tenha estudado em Alexandria, no Egito, um dos grandes centros de conhecimento da época. Lá teve contato com ideias avançadas, convivendo possivelmente com outros estudiosos que compartilhavam sua paixão por descobrir os mistérios do universo.

O que torna Archimedes tão singular não é apenas o que ele descobriu, mas a forma como pensava. Em uma época em que a maioria das explicações vinha de mitos e tradições, ele buscava respostas concretas, baseadas na lógica e na observação. Era um homem de olhos atentos e mente inquieta, que via o mundo como um grande quebra-cabeça esperando para ser decifrado.

Uma de suas histórias mais famosas envolve uma banheira. Conta-se que o rei Hierão II desconfiava que sua coroa não era feita de ouro puro. Archimedes recebeu a missão de descobrir a verdade sem danificá-la. Um dia, ao entrar numa banheira cheia, percebeu que a água transbordava conforme seu corpo afundava. Ele havia encontrado uma forma de medir o volume de um objeto irregular e, por consequência, sua densidade. Saiu correndo pelas ruas de Siracusa, nu e empolgado, gritando a palavra que se tornaria símbolo da descoberta científica: Eureka.

O chamado Princípio de Archimedes é hoje uma das bases da hidrostática. Graças a ele compreendemos por que navios flutuam, como funcionam submarinos e por que certos objetos afundam enquanto outros permanecem na superfície. No entanto, esse foi apenas um dos muitos legados deixados por Archimedes.

Ele também desenvolveu conceitos fundamentais de matemática, como a ideia de cálculo infinitesimal. Séculos antes de Newton e Leibniz formalizarem o cálculo, Archimedes já trabalhava com somas de áreas e volumes, aproximando-se perigosamente do que hoje chamamos de integração. Suas análises de figuras curvas, como parábolas e espirais, demonstram uma precisão impressionante, considerando as ferramentas limitadas da época.

No campo da engenharia, suas invenções ainda surpreendem. Criou sistemas de alavancas, polias e catapultas, algumas utilizadas na defesa de Siracusa contra os romanos. Certa vez declarou que poderia mover a Terra, desde que tivesse um ponto de apoio e uma alavanca suficientemente longa. Não era uma metáfora vazia. Ele compreendia profundamente os princípios da mecânica e sabia que, com o entendimento certo, forças pequenas podiam mover montanhas.

Archimedes não era um homem interessado em guerras. Era um pensador. Apesar disso, durante o cerco romano à sua cidade, ele foi peça-chave na resistência. Projetou máquinas de guerra que atrasaram o avanço inimigo. Mesmo assim, em 212 a.C., a cidade caiu. Archimedes, imerso em cálculos e desenhos, teria sido morto por um soldado romano, apesar da ordem expressa de poupá-lo. Seu último momento, segundo relatos, foi passado desenhando figuras geométricas no chão, alheio ao caos ao redor.

Por séculos, muitas de suas obras foram perdidas, copiadas por monges ou escondidas em palimpsestos. Somente no século XX, com o avanço da tecnologia e a descoberta de manuscritos antigos, parte de seu pensamento voltou à luz. O "Palimpsesto de Archimedes", por exemplo, revelou obras que antes se acreditavam perdidas, incluindo estudos sobre matemática aplicada e combinatória.

Hoje, ao estudarmos suas ideias, percebemos o quanto Archimedes estava à frente de seu tempo. Ele não apenas explicava o mundo ao seu redor, como antevia conceitos que só seriam compreendidos milênios depois. Sua mente era uma ponte entre o concreto e o abstrato, entre o palpável e o invisível. Era capaz de transformar perguntas simples em soluções eternas.

Numa era em que nos deslumbramos com inteligência artificial, satélites e aceleradores de partículas, lembrar de Archimedes é lembrar que o conhecimento nasce do olhar atento, da dúvida honesta, da persistência diante do mistério. Ele nos ensinou que a ciência é, antes de tudo, um exercício de humanidade. Um gesto de quem deseja entender não apenas o que é, mas por que é assim.

Archimedes permanece vivo. Não nas estátuas ou nos nomes de crateras lunares, mas em cada cálculo, em cada equação, em cada mente curiosa que se atreve a perguntar o que há por trás da superfície. Afinal, foi ele quem nos mostrou que, mesmo nas coisas mais simples, como uma banheira transbordando, pode estar escondido o segredo do universo.