Galileu Galilei

Por Arthur Noronha
23 de maio de 2025

Num tempo em que o céu era domínio sagrado e a Terra ocupava o centro do universo por convicção quase absoluta, nasceu um homem que teve a ousadia de levantar os olhos para as estrelas e dizer: há algo que ainda não compreendemos. Galileu Galilei, nascido em Pisa no ano de 1564, foi mais do que um cientista. Ele foi uma força movida pela curiosidade, alguém que fez do ceticismo uma ferramenta e da observação uma arte. Em uma era em que pensar por conta própria podia custar caro, Galileu escolheu o caminho da razão.

Filho de um músico e teórico, Galileu cresceu em um ambiente que valorizava o raciocínio e a experimentação. Embora tenha iniciado seus estudos formais em medicina, logo abandonou esse caminho para se dedicar ao estudo da matemática e da física, campos nos quais se sentiria verdadeiramente livre. Sua sede de compreender o mundo ao redor o levou a observar detalhes do cotidiano com olhos científicos. Uma das histórias mais conhecidas é a de quando, dentro de uma catedral, ele percebeu que o movimento de um lustre oscilando podia ser descrito com precisão matemática. Daquele simples gesto nasceu uma das primeiras observações que o levariam à formulação da lei do pêndulo.

Com o passar dos anos, Galileu passou a se dedicar intensamente ao estudo do movimento. Em um tempo em que o conhecimento ainda era moldado por dogmas aristotélicos, ele decidiu colocar à prova antigas verdades. Em seus experimentos com planos inclinados, demonstrou que objetos de diferentes massas caíam com a mesma aceleração, contrariando a ideia antiga de que objetos mais pesados caíam mais rápido. Essa conclusão foi essencial para o nascimento da física moderna.

Mas foi ao construir e aperfeiçoar o telescópio que Galileu mudou para sempre nossa compreensão do universo. O instrumento em si não era uma invenção sua, mas Galileu aprimorou tanto a lente quanto a técnica de observação que conseguiu enxergar o cosmos como ninguém havia feito até então. Ao olhar para a Lua, esperava ver uma superfície lisa e perfeita, como sugeriam os ensinamentos tradicionais. Em vez disso, encontrou montanhas, vales e crateras, revelando um astro tão imperfeito quanto a própria Terra.

Ao voltar o telescópio para Júpiter, fez uma de suas descobertas mais revolucionárias. Observou pequenos pontos de luz que pareciam orbitar o planeta. Inicialmente pensou que fossem estrelas, mas, ao acompanhar sua movimentação noite após noite, percebeu que aquelas eram luas girando ao redor de Júpiter. Chamou-as de "estrelas mediceanas", em homenagem aos poderosos Médici, mas o mundo as conheceria para sempre como os satélites de Galileu: Io, Europa, Ganimedes e Calisto. Essa descoberta foi um golpe direto contra o sistema geocêntrico, pois demonstrava que nem tudo girava em torno da Terra.

E não parou por aí. Galileu também foi o primeiro a observar as fases de Vênus, que só podem ser explicadas se o planeta orbita o Sol, e não a Terra. Observou ainda milhares de estrelas invisíveis a olho nu na Via Láctea, sugerindo que o universo era muito mais vasto e complexo do que se imaginava. Identificou manchas solares, e com isso provou que o Sol, antes considerado puro e imutável, também estava sujeito a mudanças.

Ao reunir todas essas observações, Galileu passou a defender abertamente o modelo heliocêntrico de Nicolau Copérnico, no qual a Terra gira em torno do Sol. Essa postura, porém, o colocou em rota de colisão com a Igreja Católica, que ainda sustentava a visão geocêntrica como verdade absoluta. Em 1616, a doutrina heliocêntrica foi considerada herética, e Galileu recebeu ordens de não mais defendê-la publicamente.

Mesmo assim, em 1632, publicou sua obra mais famosa, Diálogo sobre os dois principais sistemas do mundo, onde comparava o modelo copernicano ao modelo tradicional de Ptolomeu. A linguagem da obra, repleta de ironias e argumentos sofisticados, desagradou as autoridades eclesiásticas. Julgado pela Inquisição, Galileu foi condenado à prisão domiciliar e forçado a abjurar suas ideias. Passou o resto da vida recluso em sua casa em Arcetri, perto de Florença.

Mesmo cego nos últimos anos, Galileu continuou ditando suas ideias, desenvolvendo teorias sobre o movimento e deixando contribuições valiosas para a ciência. Seu livro Duas novas ciências, escrito durante o período de reclusão, lançou as bases da mecânica clássica e da resistência dos materiais, antecipando conceitos que mais tarde seriam formalizados por Isaac Newton.

Galileu Galilei não foi apenas um cientista, mas um símbolo da coragem intelectual. Em tempos sombrios, ele acendeu uma vela que jamais se apagou. Ao olhar para o céu e recusar-se a aceitar respostas prontas, inaugurou um novo modo de pensar: o pensamento crítico, baseado em evidências, testes e revisões. Foi punido por isso, mas também foi consagrado pela história como um dos pais da ciência moderna.

Hoje, quando enviamos telescópios para além da órbita terrestre, quando desvendamos os segredos de galáxias distantes ou quando compreendemos as leis que regem o movimento dos corpos, é impossível não reconhecer as sementes plantadas por ele. Galileu vive em cada observatório, em cada equação, em cada olhar curioso voltado para o infinito.