Sonda MAVEN
observa pela primeira vez a "erosão atmosférica" em Marte
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Arthur Noronha
5/30/20253 min read


Por Arthur Noronha
29 de maio de 2025
Durante décadas, cientistas de todo o mundo têm tentado desvendar os mistérios por trás da atmosfera rarefeita de Marte. Como um planeta que já teve condições potencialmente favoráveis à vida perdeu grande parte do seu ar? O que causou o desaparecimento de boa parte da atmosfera que poderia, um dia, ter sustentado oceanos e talvez até vida microbiana?
Agora, uma resposta começa a emergir do silêncio do espaço. Pela primeira vez, pesquisadores observaram diretamente um fenômeno que até então era apenas teorizado: o “sputtering” atmosférico em Marte. A descoberta foi possível graças à sonda MAVEN, que orbita o planeta vermelho desde 2014 e que continua entregando dados de valor incalculável para a comunidade científica.
O sputtering, em termos simples, é como se a atmosfera de Marte estivesse sendo lentamente arrancada, molécula por molécula, por partículas energéticas vindas do Sol. Essas partículas, carregadas de energia, colidem com átomos presentes na atmosfera marciana, transmitindo-lhes tanta velocidade que acabam sendo lançados para fora do planeta. É uma espécie de "vazamento atmosférico" em escala cósmica.
O que torna essa observação tão relevante é o fato de que, até então, esse processo nunca havia sido diretamente registrado. Ele era previsto por modelos e teorias, mas sem comprovação empírica. Agora, com os dados coletados pela MAVEN, os cientistas conseguiram não apenas identificar o fenômeno, mas também acompanhar sua dinâmica em tempo real.
A equipe responsável pela missão explicou que o sputtering funciona quase como um efeito dominó. Uma partícula solar atinge a atmosfera superior de Marte, transfere sua energia a um átomo neutro, e esse átomo acaba sendo ejetado para o espaço. Mas o mais impressionante é que esse impacto inicial pode provocar uma cascata de colisões, fazendo com que múltiplas partículas sejam expulsas em cadeia.
Essa descoberta não apenas confirma um processo fundamental na evolução do clima marciano, mas também ajuda a responder perguntas cruciais sobre o passado do planeta. Se Marte já teve rios, lagos e possivelmente oceanos, onde foi parar toda essa água? A resposta pode estar, em parte, nessa erosão atmosférica contínua que vem ocorrendo há bilhões de anos.
O papel da sonda MAVEN, nesse sentido, é central. Ela foi projetada exatamente para estudar a interação entre o Sol e a atmosfera de Marte. Seus instrumentos são capazes de medir os fluxos de partículas, analisar as composições gasosas e detectar variações que ocorrem em escalas que vão de segundos a milhões de anos. É como ter um laboratório de alta precisão orbitando outro mundo.
Além do avanço científico, a descoberta tem implicações práticas. Ao entender como Marte perdeu sua atmosfera, os pesquisadores podem refinar seus modelos de habitabilidade planetária, o que impacta diretamente a busca por vida fora da Terra. Também ajuda a prever como um planeta pode reagir à exposição prolongada ao vento solar – algo relevante não só para Marte, mas para exoplanetas e até para o próprio futuro da Terra.
A observação inédita do sputtering não é apenas um dado técnico. Ela representa um passo significativo em nossa jornada para entender o que torna um planeta habitável – e o que pode levá-lo a se tornar estéril. Marte, com seu passado misterioso e presente desolador, continua sendo um espelho onde vemos possibilidades e alertas.
Ao acompanhar o trabalho da MAVEN, fica claro que ainda estamos apenas no início de uma longa conversa com o universo. Uma conversa que exige paciência, tecnologia, imaginação e, acima de tudo, humildade diante da vastidão que nos cerca.
Fonte: https://science.nasa.gov/missions/maven/nasas-maven-makes-first-observation-of-atmospheric-sputtering-at-mars/