As Linhas de Nazca

O Mistério Desenhado no Deserto

MISTÉRIOS

Arthur Noronha

5/12/20253 min read

As Linhas de Nazca: O Mistério Desenhado no Deserto

Por Arthur Noronha
12 de maio de 2025

Em meio ao silêncio árido do deserto peruano, uma pergunta ecoa há séculos: quem desenhou as Linhas de Nazca? E por quê?

Estive lá, vi de perto, respirei a poeira fina daquele chão sagrado. O que encontrei não foi apenas um sítio arqueológico. Foi um encontro com o inexplicável. Uma conversa silenciosa com o passado.

Era bem cedo quando embarquei num pequeno avião monomotor em Nazca. O piloto, tranquilo, avisou que o voo seria curto, mas com curvas acentuadas. O motor roncou, e logo estávamos no céu. De repente, lá estavam elas. A primeira figura que vi foi a do colibri, com suas asas abertas sobre a terra. Depois veio a aranha, de proporções tão perfeitas que nem parecia obra humana. Mais à frente, um macaco com o rabo enrolado, como se tivesse sido desenhado ontem. Mas tudo isso tem mais de 1500 anos.

Essas linhas, feitas pela civilização Nazca entre os séculos I e VII, só podem ser vistas de verdade do alto. Do chão, parecem simples sulcos na terra. Mas do céu, se transformam em arte gigantesca. É isso que deixa tudo tão enigmático. Como um povo antigo conseguiu traçar desenhos tão complexos sem nenhuma visão aérea?

Conversei com pesquisadores locais e todos confirmam: as figuras foram feitas removendo as pedras escuras da superfície, revelando a areia mais clara por baixo. O solo do deserto é tão seco e estável que as marcas resistiram ao tempo como se estivessem guardadas por ele.

Mas por que fazer isso? Para quê? Algumas respostas tentam emergir do passado, mas nenhuma delas consegue saciar por completo nossa curiosidade. Arqueólogos falam em rituais religiosos. Outros apostam em mapas celestes. E há ainda os que acreditam que as figuras foram feitas para seres que vinham do céu.

Conheci a Dona María, uma senhora que vende colares feitos à mão na praça central da cidade. Ela me contou que seu avô jurava ter visto uma luz muito forte pairar sobre as linhas numa noite distante. "Ele dizia que não era estrela, nem avião... era uma coisa que não fazia barulho e parecia viva", contou com os olhos marejados. Depois disso, fez silêncio e olhou para o chão, como se falasse com ele.

Não tem como ignorar que as Linhas de Nazca se tornaram um dos maiores símbolos do mistério no mundo. Não só pelo tamanho ou pela precisão, mas pelo fato de estarem ali, solenes, como se esperassem ser decifradas. Há linhas com dezenas de quilômetros em linha reta. Geoglifos com centenas de metros de extensão. E tudo isso feito num tempo em que sequer existia o conceito de voo.

Maria Reiche, uma matemática e arqueóloga alemã que dedicou a vida a estudar Nazca, acreditava que os desenhos tinham relação com as estrelas e os solstícios. Chegou a viver no deserto, sozinha, durante anos, varrendo as linhas com as próprias mãos. Hoje, muitos estudiosos se inclinam mais para a teoria de que as linhas eram uma forma de pedido ou agradecimento aos deuses da água. Afinal, num deserto, nada é mais sagrado do que a chuva.

Apesar das pesquisas, o mistério permanece. E não só na academia. Ele vive nas ruas de Nazca, nas conversas de bar, nos olhares curiosos dos moradores que convivem com esse enigma há gerações. Falei com Jorge, um vendedor de frutas no mercado municipal. Ele me disse algo que ficou comigo até agora. "Não importa se foi gente, deus ou ET. O que importa é que ninguém conseguiu fazer igual."

E talvez essa seja a grande questão. Não é sobre quem fez. É sobre o que isso nos faz sentir.

Infelizmente, o progresso ameaça o que o tempo conservou. Em 2014, o grupo Greenpeace deixou marcas irreversíveis em uma das linhas durante um protesto ambiental. Fora isso, caminhões, construções ilegais e até rachas noturnos já danificaram outras partes do sítio. É como se o desrespeito moderno ferisse uma sabedoria antiga.

Nos últimos anos, novas figuras têm sido descobertas com ajuda de drones. Gatos, peixes, formas humanas nunca vistas antes. É como se o deserto ainda tivesse segredos guardados sob a areia, esperando o momento certo para serem revelados.

Ao fim do voo, ainda meio tonto pelas curvas e pela emoção, tive a sensação de que as Linhas de Nazca não foram feitas para serem entendidas. Foram feitas para nos lembrar de que há coisas que talvez não devamos decifrar, apenas contemplar. E respeitar.

Elas estão lá. Vivas, silenciosas, eternas. Como se desenhassem a própria pergunta: será que estamos sozinhos?

Talvez nunca saibamos. Mas enquanto houver céu, enquanto houver deserto, elas continuarão ali. Testemunhas silenciosas de algo maior do que nós.