Satélite SWOT revela pela primeira vez ondas de grande escala em rios

um marco na ciência da água

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Arthur Noronha

5/21/20253 min read

Por Arthur Noronha,
21 de maio de 2025

Pela primeira vez na história, cientistas conseguiram observar ondas de grande escala se propagando por rios do planeta. Esse feito inédito foi possível graças a uma missão conjunta entre a NASA e a agência espacial francesa CNES, por meio do satélite SWOT, que significa Surface Water and Ocean Topography. Lançado em dezembro de 2022, o SWOT vem revolucionando o estudo da hidrologia ao capturar imagens e dados de altíssima precisão sobre os níveis de água em rios, lagos, reservatórios e oceanos.

O que torna essa descoberta tão significativa é a detecção de um fenômeno antes jamais documentado em rios: as chamadas ondas internas de maré. Até então, esse tipo de onda era conhecido apenas em ambientes oceânicos, onde camadas de água com diferentes densidades se deslocam em profundidade, formando ondulações invisíveis à superfície, mas capazes de percorrer longas distâncias e influenciar o transporte de calor, nutrientes e sedimentos. Agora, com a observação dessas ondas em rios, abre-se uma nova janela de entendimento sobre os mecanismos que regem a movimentação da água doce em nosso planeta.

A tecnologia embarcada no SWOT é um dos grandes trunfos dessa conquista. Utilizando um radar interferométrico de banda Ka, batizado de KaRIn, o satélite mede com impressionante precisão a elevação da superfície da água em escalas nunca antes alcançadas. Com uma resolução espacial de aproximadamente 250 metros, o SWOT consegue identificar alterações sutis nos níveis de rios e lagos, mesmo em locais remotos ou de difícil acesso terrestre.

As primeiras observações dessas ondas fluviais foram feitas no rio Congo, na África, uma das regiões com maior fluxo hídrico do mundo. Os cientistas detectaram variações regulares na altura da água que se propagavam por centenas de quilômetros, um padrão característico das ondas internas de maré. Essa descoberta não apenas confirma a existência desse fenômeno em rios, como também levanta novas questões sobre sua origem, frequência e impacto ecológico.

A implicação dessa descoberta vai muito além do interesse acadêmico. Ao entender melhor como a água se movimenta em grandes sistemas fluviais, os pesquisadores podem aprimorar modelos climáticos, prever com maior exatidão enchentes e secas, além de orientar a gestão de recursos hídricos em regiões vulneráveis. Esses dados também são essenciais para compreender como os sedimentos e nutrientes são transportados ao longo dos rios, influenciando diretamente a fertilidade do solo, a qualidade da água e a biodiversidade aquática.

Outro aspecto notável é o alcance global da missão. Diferentemente de satélites anteriores, que cobriam áreas limitadas, o SWOT realiza medições em quase toda a superfície da Terra a cada 21 dias, possibilitando um monitoramento quase contínuo da dinâmica hídrica planetária. Isso permite, por exemplo, acompanhar em tempo real as transformações causadas por eventos climáticos extremos, como ciclones, incêndios florestais e derretimento de geleiras.

Essa nova capacidade de observação surge em um momento crucial, quando a humanidade enfrenta os impactos das mudanças climáticas com crescente urgência. A frequência de eventos climáticos extremos está aumentando, e os recursos hídricos, em muitas regiões do mundo, tornam-se cada vez mais escassos. Com dados mais precisos sobre como a água doce se comporta, cientistas, gestores e formuladores de políticas públicas terão ferramentas mais eficazes para tomar decisões baseadas em evidências.

Além da inovação tecnológica, a missão SWOT simboliza a força da colaboração internacional em prol do conhecimento. A parceria entre Estados Unidos, França, Canadá e Reino Unido uniu diferentes competências científicas e engenharias, provando que quando nações se unem em torno de um propósito comum, os resultados podem transformar a maneira como compreendemos e protegemos o nosso planeta.

Mais do que uma façanha científica, a observação dessas ondas em rios marca o início de uma nova era para o estudo da água. É como se um véu tivesse sido levantado sobre dinâmicas que sempre estiveram ali, mas que só agora, com o auxílio do olhar do espaço, estamos começando a enxergar. A missão SWOT ainda está em seus primeiros anos de operação, e os especialistas acreditam que muitas outras descobertas virão a partir dela.

É um lembrete poderoso de que, mesmo em tempos de incerteza, a ciência continua avançando, desvendando os segredos da Terra com paciência, dedicação e uma incansável curiosidade humana.

Fonte: https://www.nasa.gov/missions/swot/nasa-french-satellite-spots-large-scale-river-waves-for-first-time/