Vênus e seus segredos
tividade tectônica pode estar moldando o planeta vizinho
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Arthur Noronha
5/15/20253 min read


Por Arthur Noronha
15-05-2025
Vênus e seus segredos: atividade tectônica pode estar moldando o planeta vizinho
Durante décadas, o planeta Vênus foi considerado uma versão geologicamente inerte da Terra, coberto por densas nuvens de ácido sulfúrico e castigado por temperaturas infernais. Mas agora, uma reanálise cuidadosa de dados coletados há mais de 30 anos pela sonda Magellan, da NASA, está desafiando essa visão. Pesquisadores descobriram evidências convincentes de que Vênus pode, sim, ser geologicamente ativo. Isso inclui movimentações tectônicas em curso em sua superfície.
A descoberta, embora baseada em dados antigos, representa uma reviravolta na compreensão do planeta e reacende o interesse científico sobre o mundo vizinho. Por trás dessas revelações está um trabalho minucioso, quase artesanal, de comparação de imagens capturadas entre 1990 e 1992. Foram analisadas formações rochosas que, aparentemente, mudaram de forma e posição em um curto intervalo de tempo, sugerindo deslocamentos estruturais inesperados.
Um planeta em mutação?
O que mais chama a atenção é que as mudanças não são isoladas. Em várias regiões de Vênus, os cientistas observaram o que parecem ser feições de empurrões rochosos, fraturas e deslocamentos que lembram processos tectônicos como os que moldam os continentes aqui na Terra. Essas mudanças ocorreram ao longo de poucos meses, um piscar de olhos na escala do tempo geológico.
Para muitos especialistas, a hipótese mais plausível é que Vênus esteja passando por um tipo de atividade tectônica ainda não bem compreendida. Diferente da Terra, que tem placas tectônicas móveis e bem definidas, Vênus pode ter uma crosta mais rígida e fragmentada, com movimentações localizadas e episódicas, impulsionadas por forças internas acumuladas ao longo de milhões de anos.
O legado da missão Magellan
A sonda Magellan orbitou Vênus por quatro anos e mapeou cerca de 98% da superfície do planeta com radares de alta resolução. Na época, os dados foram revolucionários, mas os recursos computacionais para análise eram limitados. Agora, com novas tecnologias de processamento de imagem e aprendizado de máquina, os cientistas têm conseguido extrair detalhes que passaram despercebidos nas décadas anteriores.
O trabalho mais recente envolveu sobrepor imagens obtidas em diferentes períodos e analisar com extremo rigor as alterações entre elas. Em uma dessas comparações, os pesquisadores notaram que uma estrutura geológica, antes considerada estática, havia se deformado e colapsado parcialmente, como se tivesse sido dobrada por uma força vinda do interior do planeta.
Implicações para o futuro
A possibilidade de Vênus ser um planeta geologicamente ativo abre um leque de novas questões. Qual é a fonte de calor interno que alimenta essa dinâmica? Seria o vulcanismo ainda presente em certas regiões? Como essas forças moldam a atmosfera densa e hostil do planeta?
Mais ainda, essas descobertas podem redefinir as estratégias de futuras missões, como a VERITAS (que visa mapear Vênus com tecnologia moderna) e a EnVision, da ESA, que pretende investigar sua atividade sísmica e estrutura interna com instrumentos de última geração.
Se for confirmado que Vênus possui processos tectônicos próprios, ainda que diferentes dos da Terra, isso pode significar que mundos rochosos em geral são mais ativos do que imaginávamos. E, por consequência, pode influenciar a forma como buscamos planetas habitáveis fora do sistema solar.
O planeta esquecido ganha voz
Por muito tempo, Vênus foi ignorado nas missões de exploração. Sua atmosfera corrosiva e suas condições extremas afastaram o entusiasmo que se voltou, por exemplo, para Marte e suas possíveis marcas de água. Mas agora, com essa redescoberta tectônica, o planeta vizinho pode finalmente ganhar o protagonismo que lhe cabe.
Entender Vênus não é apenas entender um planeta. É olhar para o passado e futuro da Terra com um espelho deformado, mas revelador. É perceber que, mesmo sob um céu opaco e tóxico, pulsa um planeta que respira, que muda, que reage às forças de seu próprio interior.
O tempo de Vênus pode estar apenas começando. E com ele, talvez, um novo capítulo na nossa jornada de autoconhecimento cósmico.
Fonte : https://www.nasa.gov/missions/magellan/nasas-magellan-mission-reveals-possible-tectonic-activity-on-venus/